segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Minha versão sobre a Guerra do Ultramar

Aqueles que quiserem saber como se faz a guerra, terão de escutar os soldados que foram os homens da frente, do lado e da retaguarda. São esses os valentes, os que vêm os obstáculos, que pisam as minas, que alertam os que seguem atrás. São esses que obedecem, que cumprem, que morrem ou ficam mutilados. Os que dão voz de comando, que ordenam, que punem, que projetam  as operações e que redigem os relatórios; os que colhem os louros, em função dos relatos que fazem e que, nem sempre saíram do arame farpado, podem ser muito competentes e muito sérios. Mas os factos de que falam, foram vividos, bem ou mal, pela arraia miúda, a soldadesca anónima que cumpre sem discutir, executa sem reclamar, obedece sem ofender.
Ora esse exército que obedece, que executa, que cumpre sem ofender, sem reclamar e sem discutir, corresponde ao «quase milhão» de jovens que se expôs que deu o peito às balas, que fez noite e dia, em todas as circunstâncias, a guerra no Ultramar. Fosse, em Angola, na Guiné em Moçambique. Acontecera na Índia, em 22 de Julho de 1954, quando Neru invadiu os nossos enclaves do distrito de Damão no Estado Português da Índia. Repetiu-se, em maior escala, desde 4 de Fevereiro de 1961 nos palcos africanos. Uns nas Armas de Infantaria, Cavalaria  ou Artilharia. Outros na Força Aérea e na Marinha. Todos esses pertenciam aos Três Ramos das Forças Armadas. Dizem as estatísticas que entre o início e os fins da guerra foram chamados a prestar serviço obrigatório cerca de 1 milhão de jovens. Em 1961, serviam em Angola, Guiné e  Moçambique, apenas 6.500 militares, 1500 dos quais eram metropolitanos. Em 1973 Portugal tinha no Ultramar Africano 236.455 militares. O diferencial entre profissionais da guerra e os recrutados era abismal. Mas dá para entender que os poucos profissionais da guerra, com armas na mão, com os tanques ao seu dispor, com o respeito que a sociedade civil se habituou a ter pelas divisas, pelos galões e pelas estrelas ameaçaram, traíram, executaram os seus instintos. Meio milhão de retornados, gente que foi à luta, que trabalhou, que gerou riqueza, viu, em consequência dessa traição, tudo desabar à sua frente. Não puderam os milicianos, gente informada e expedita, explicar ao povo anónimo os motivos do golpe de Estado. E, embora traídos, até eles, vieram para a rua, saudar a queda do regime vigente, acabando a mobilização dos jovens que eram obrigados a cumprir apenas o dever cívico.
(Opinião de Barroso da Fonte)